domingo, 2 de dezembro de 2012

40 Anos de Esquina - Ode a um Eterno Clube

COLUNA [Meus discos e livros e nada Mais]


Lendária capa do álbum: Clube da Esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges

Por Daniel Mendes

Em 1972 foi lançado um disco fundamental para o que se passou a chamar de música mineira. Todavia, o brilhantismo desse álbum foi algo tão arrebatador para a crítica de música no país, que o rótulo de mineira logo ficou obsoleto para esta música, dando aos músicos criadores dessa bela obra o status de grandes artistas da música popular brasileira. Trata-se do lendário álbum: Clube da Esquina, que em 2012 completa 40 anos.

Músicos e compositores mineiros talentosíssimos contribuíram na construção desse álbum: Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Fernando Brant, Márcio Borges, Ronaldo Bastos, Flávio Venturini, Novelli, Tavito, Wágner Tiso, dentre outros. Além disso, o disco contribuiu para consolidar a carreira de Milton Nascimento, que assina a obra junto com Lô Borges. Milton, um pouco mais velho do que o restante do grupo, já havia aparecido no cenário nacional durante os Festivais da Canção no final dos anos 60 e sua participação na gravação foi decisiva para o sucesso deste álbum, abrindo as portas para os outros músicos integrantes.

Clube da Esquina é um disco que encanta seja qual for a geração. As harmonias e melodias de cada canção nos remetem a um cenário bucólico e romântico monumental. O som que emana da voz de Milton Nascimento é quase que uma hipnose e as guitarras e violas, meio Beatles, meio rurais, de Beto Guedes e Toninho Horta se conectam com a voz de Milton de forma impecável. As letras, muitas de Fernando Brant, Márcio Borges e Ronaldo Bastos, em parceria com Milton, Lô e Beto, são lindas e recriam todo um cenário de Minas Gerais, que nem mesmo aquele que nunca pisou os pés em Minas, deixa de reconhecer algo muito forte deste estado naquelas canções. Dentre as de destaques posso citar: Nada será como antes, Cais, O Trem Azul, Um girassol da cor do seu cabelo, Tudo que você podia ser, Nuvem Cigana, San Vicente, Paisagem na Janela, dentre outras. Quase um disco todo de músicas inesquecíveis.

Definitivamente, a música mineira e brasileira nunca mais foi à mesma depois de Clube da Esquina. E me arrisco a dizer que quem ouviu as músicas desse álbum um dia não se esquece dele jamais. Vários artistas já consagrados na época do lançamento deste disco ficaram encantados com o que ouviram e passaram a se aproximar mais destes artistas. Dentre os ilustres fãs: Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Gal Costa e Rita Lee são os mais entusiasmados. Em 1978, seis anos após o lançamento do álbum original, os mesmos músicos se reuniram outra vez para lançarem: Clube da Esquina 2, disco também muito bom e que consolidou todo o talento dessa geração. Vale à pena ressaltar que o Clube da Esquina nunca se configurou em um movimento, como foi o Tropicalismo, por exemplo, nos anos 60, mas foi um momento único na historia da MPB, pela riqueza e maravilha que é esse disco, bastante influente até hoje.

Outra coisa interessante a se falar desse disco, é como a sua capa se fixou de forma definitiva na história das capas de discos no país. A beleza da foto é inquestionável e ilustra dois garotos, um negro e um branco, agachados juntos, dando a entender que seriam Milton e Lô quando crianças. No entanto, a foto nos leva há várias outras interpretações, como a de que a amizade é o mais importante ali, e sem ela, aquele disco não seria possível de existir.  E é mesmo a amizade o tema principal dessa obra. Um disco feito por amigos e para se ouvir entre amigos. Um disco que nos emociona, nos enche de esperança e de vontade de viver. Que venham mais 40 anos para o eterno Clube da Esquina!

Daniel Mendes é jornalista e crítico cultural. Escreve também para os blogs: Mais Caribe e Cultura Para Desocupados.

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