Ser
brega
na música brasileira é falar abertamente de amores perdidos, saudade da
terra, paixões arrebatadoras, usando como estratégias: melodias
consonantes, refrões de fácil assimilação, linguagem acessível e ritmos
contagiantes. Ser chic é falar de tudo isso usando a subjetividade nas
letras, melodias ricas em dissonâncias, fusão de ritmos rebuscados. Para
ambos os casos existem públicos bem definidos, mas, que às vezes
fundem-se a depender do momento e do ambiente.
Nos anos 70, por exemplo, enquanto Chico Buarque usava o pseudônimo de
Julinho da Adelaide para compôr e assim driblar a censura à canções como
Apesar de Você,
cuja letra teria sido uma crítica velada ao então presidente da
república Emílio Garrastazu Médici, outro cantor e compositor brasileiro
recebia reprimendas do regime e tinha também as suas canções
censuradas. Odair José, ídolo das multidões, foi um dos mais censurados
na música popular, canções como:
O Motel, Pare de Tomar a Pílula, A
Primeira Noite( que Odair precisou mudar o título para: Noites de
Desejos) o fizeram alvo dos olhares maledicentes dos censores da
ditadura.
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Chico Buarque - Divulgação |
De acordo com os ditames da censura, tais canções, independente de
quem as compunha e do rótulo que recebiam, iam de encontro à moral e aos
bons costumes e feriam os princípios da família brasileira "defendida"
pela ditadura militar. Ou seja, durante os anos de chumbo "o sistema
era bruto para qualquer um!" O tempo passou, a ditadura militar
acabou, a internet se popularizou, chegou a telefonia celular, a ovelha
Dolly foi clonada, o tablet virou febre no mundo, os smartphones também, mas, a censura continua, só que mudou de mãos. O que
percebemos hoje é a indústria cultural fazendo uso dos meios de
comunicação para determinar o que é
cult e o que é brega.
Certamente o grande diferencial é a evolução tecnológica que libertou os artistas da obrigatoriedade de estar preso a uma gravadora
para gravar um CD e assim se insirir no mercado, mesmo que
de forma informal.
Um exemplo interessante do "faça você mesmo",
são os cantores de "Arrocha" na Bahia que começaram a aparecer em 2004 e
fizeram e fazem sucesso entre jovens e adultos de várias idades e
classes sociais. Naquele momento do recôncavo baiano, chamar de brega: Nara Costa(Rainha do
Arrocha), Márcio Moreno(Rei do Arrocha), Silvano Sales( O Cantor
Apaixonado), e os grupos Arrocha e Asas Livres, era o mesmo que assinar
um atestado de desinformado ou na melhor das hipóteses, saudosista dos
anos 80.
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Chitãozinho e Xororó começo de carreira- Div. |
Outro bom exemplo, são os artistas sertanejos que durante
muito tempo, foram chamados de "Breganejos". Chitãozinho e Xororó, Zezé
Di Camargo e Luciano, Rick e Renner, Daniel, Leonardo, Milionário e Zé
Rico tiveram que trabalhar duro para derrotar essa pecha e cair no gosto
da maioria. Essa luta não foi ingloria porque abriu espaço para novos
talentos. Porém, esses novos nomes, no afã de atender à
indústria cultural, buscam o afastamento da música sertaneja promovida pelos astros citados acima e trazem a mesma receita dentro de
um envólucro chamado de
Sertanejo Universitário com sotaque norte-americano
. Assim, ser
brega é fazer o sertanejo de raiz e ser chic é ser o sertanejo
country.
A última pá de cal, sobre o moribundo preconceito musical, foi colocada esta semana com a confirmação da cantora paraense Gaby Amarantos como uma das atrações do Festival de Cannes 2013, que vai de 15 à 26 de maio. O mesmo festival que já recebeu brasileiros como Chico Buarque e Gilberto Gil. No
Twitter, Gaby disse: "minha alma emergente me obriga a postar várias fotos direto de
Cannes rindo para trás." Mais uma vez a história mostra que o sucesso não está atrelado ao virtuosismo pregado pelos erúditos ou aos frustrados músicos que se tornam críticos musicais, mas, ao modo simples se dizer as coisas que o povo quer ouvir, e mais, na competência de gerir uma carreira artística.
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