domingo, 5 de maio de 2013

Gaby Amarantos no Festival de Cannes - talento vence o preconceito

Gaby Amarantos - Divulgação

Ser brega na música brasileira é falar abertamente de amores perdidos, saudade da terra, paixões arrebatadoras, usando como estratégias: melodias consonantes, refrões de fácil assimilação, linguagem acessível e ritmos contagiantes. Ser chic é falar de tudo isso usando a subjetividade nas letras, melodias ricas em dissonâncias, fusão de ritmos rebuscados. Para ambos os casos existem públicos bem definidos, mas, que às vezes fundem-se a depender do momento e do ambiente.

Nos anos 70, por exemplo, enquanto Chico Buarque usava o pseudônimo de Julinho da Adelaide para compôr e assim driblar a censura à canções como Apesar de Você, cuja letra teria sido uma crítica velada ao então presidente da república Emílio Garrastazu Médici, outro cantor e compositor brasileiro recebia reprimendas do regime e tinha também as suas canções censuradas. Odair José, ídolo das multidões, foi um dos mais censurados na música popular, canções como: O Motel, Pare de Tomar a Pílula, A Primeira Noite( que Odair precisou mudar o título para: Noites de Desejos) o fizeram alvo dos olhares maledicentes dos censores da ditadura.

Chico Buarque - Divulgação
De acordo com os ditames da censura, tais canções, independente de quem as compunha e do rótulo que recebiam, iam de encontro à moral e aos bons costumes e feriam os princípios da família brasileira "defendida" pela ditadura militar. Ou seja, durante os anos de chumbo "o sistema era bruto para qualquer um!" O tempo passou, a ditadura militar acabou, a internet se popularizou, chegou a telefonia celular, a ovelha Dolly foi clonada, o tablet virou febre no mundo, os smartphones também, mas, a censura continua, só que mudou de mãos. O que percebemos hoje é a indústria cultural fazendo uso dos meios de comunicação para determinar o que é cult e o que é brega. Certamente o grande diferencial é a evolução tecnológica que libertou os artistas da obrigatoriedade de estar preso a uma gravadora para gravar um CD e assim se insirir no mercado, mesmo que de forma informal.

Um exemplo interessante do "faça você mesmo", são os cantores de "Arrocha" na Bahia que começaram a aparecer em 2004 e fizeram e fazem sucesso entre jovens e adultos de várias idades e classes sociais. Naquele momento do recôncavo baiano, chamar de brega: Nara Costa(Rainha do Arrocha), Márcio Moreno(Rei do Arrocha), Silvano Sales( O Cantor Apaixonado), e os grupos Arrocha e Asas Livres, era o mesmo que assinar um atestado de desinformado ou na melhor das hipóteses, saudosista dos anos 80.

Chitãozinho e Xororó começo de carreira- Div.
Outro bom exemplo, são os artistas sertanejos que durante muito tempo, foram chamados de "Breganejos". Chitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano, Rick e Renner, Daniel, Leonardo, Milionário e Zé Rico tiveram que trabalhar duro para derrotar essa pecha e cair no gosto da maioria. Essa luta não foi ingloria porque abriu espaço para novos talentos. Porém, esses novos nomes, no afã de atender à indústria cultural, buscam o afastamento da música sertaneja promovida pelos astros citados acima e trazem a mesma receita dentro de um envólucro chamado de Sertanejo Universitário com sotaque norte-americanoAssim, ser brega é fazer o sertanejo de raiz e ser chic é ser o sertanejo country.

A última pá de cal, sobre o moribundo preconceito musical, foi colocada esta semana com a confirmação da cantora paraense Gaby Amarantos como uma das atrações do Festival de Cannes 2013, que vai de 15 à 26 de maio. O mesmo festival que já recebeu brasileiros como Chico Buarque e Gilberto Gil. No Twitter, Gaby disse: "minha alma emergente me obriga a postar várias fotos direto de Cannes rindo para trás." Mais uma vez a história mostra que o sucesso não está atrelado ao virtuosismo pregado pelos erúditos ou aos frustrados músicos que se tornam críticos musicais, mas, ao modo simples se dizer as coisas que o povo quer ouvir, e mais, na competência de gerir uma carreira artística.

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